DIA VINTE DE DEZEMBRO

Dia vinte de dezembro de mil novecentos e noventa e quatro.
Vinte e dois anos já se passaram, mas não passou o trauma de uma demissão injusta: cheguei a pensar em dar um fim em minha vida e na de minha família.
Hoje eu sei que, naquele dia, num colégio católico, fui demitido — por uma nova diretora, que veio a substituir aquela a quem eu servira fielmente por mais de dez anos — a mando do Bispo, após quase 13 anos de bons serviços prestados à instituição e à Educação.
Motivo: eu estava há um ano na Maçonaria.
E nesses vinte anos, cada vez que se aproxima o dia 20 de dezembro, passo a ter terríveis pesadelos: volto aos corredores do antigo colégio, volto a me encontrar com irmãs — algumas já falecidas — volta a angústia indescritível que sentimos quando perdemos o emprego sem um motivo justo.
E, por incrível coincidência, encontro nesse mês de dezembro de 2016, no Face, uma história, parecida com a minha.
“O Último Rei da comunidade tinha dez cães selvagens.
Ele usava para torturar e comer qualquer um dos seus servidores que cometesse um erro.
Um dos servos disse algo errado — no meu caso eu disse: “Sou Maçom” …numa escola católica — e o Rei, que não gostava dele por motivos inconfessáveis, ordenou que o servo fosse jogado aos cães.
O servo disse: “Eu o servi por dez anos, e você faz isso comigo? Por favor, dê-me dez dias antes de me jogar aos cães?”
E o Rei atendeu ao pedido do servo.
Nesses dez dias, o servo foi até o guarda que lidava com cães e disse que gostaria de servir aos cães durante os próximos dez dias. O guarda ficou confuso, mas concordou… e ao servo foi autorizado alimentar os cães, limpá-los e banhá-los propiciando a eles todo o conforto.
Quando os dez dias se acabaram, o Rei ordenou que o servo fosse jogado aos cães, como punição.
Quando o servo foi lançado aos cães, todos ficaram surpresos ao ver os cães vorazes lamberem os pés do servo.
O Rei, perplexo com o que estava vendo, disse:
“O que aconteceu com meus cães?”
O servo respondeu: “Eu servi aos cães apenas por dez dias, e eles não se esqueceram dos meus serviços, mas, no entanto, eu o servi por dez longos anos, e você se esqueceu de todo o serviço que lhe prestei… logo no meu primeiro erro.”
O Rei percebeu sua injustiça e ordenou que o servo fosse salvo “.
No meu caso, não tive perdão do Rei…mas Deus me presenteou com um novo emprego, onde já estou há mais de vinte anos e, penso eu, com excelentes serviços prestados.
Mas fica aqui um conto dedicado a todos aqueles que se esquecem das coisas boas que uma pessoa faz, e fez …mas que passam a ser juízes insensíveis assim que se defrontam com algo que julgam ser um erro… do outro.
Estamos chegando ao dia vinte, mais um vinte de dezembro… ao qual se sucederá mais um Natal: Glória a Deus nas alturas. E paz na terra aos homens por Ele amados.
Apesar de tudo, ainda confio mais nos homens do que nos cães.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

ACADEMIAS, ARE-Academia Ribeirão-pretana de Educação, ARL- ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS, ARTIGOS, BIOGRAFIA, Colégio Anchieta, Colégio Santa Úrsula, CURRÍCULO, EDUCAÇÃO, Educacional, LITERATURA, Maçonaria