COCOON E A CASA DA AMIZADE

COCOON“Embora possa ser demasiado sentimental para alguns, conto sobrenatural de Ron Howard da eterna juventude é suave e reconfortante, tocando em questões pungentes de idade no processo”.

Cada vez que percorro os corredores da Casa da Amizade eu me lembro do filme Cocoon.
Coccon é um filme estadunidense de 1985, dos gêneros ficção científica e comédia, dirigido por Ron Howard (Apollo 13) e com Don Ameche, Brian Dennehy, Jessica Tandy e Steve Guttemberg no elenco e vencedor de 2 Oscars, em que um grupo de extraterrestres chega à Terra com a missão de resgatar alguns casulos com seres de outro planeta e que estão depositados numa piscina abandonada. Sem desconfiar de nada, três velhinhos de um asilo próximo utilizam a piscina. Como a água da piscina está energizada para conservar os casulos até que os ETs consigam removê-los todos, os velhinhos passam a sentir-se rejuvenescidos e com grande disposição. Quando descobrem a razão do que está acontecendo, decidem ajudar os extraterrestres a cumprirem sua missão.
Cocoon é meu sonho imediato de consumo.
A Casa da Amizade é uma realidade, apesar de parecer um sonho.
Nenhuma sujeira nos longos corredores, nenhum cheiro desagradável, nenhuma cena constrangedora, não importa o dia ou a hora em que entremos naquele ambiente que recende dignidade, profissionalismo, amor e respeito pelo ser humano apesar de no local estejam sendo abrigados, e muito bem cuidados, mais de cem idosos: um trabalho hercúleo desempenhado vinte e quatro horas do dia, por mãos e mentes de seres angelicais, abençoadas por Deus.
Em cada visita à Casa da Amizade encaro os olhares daqueles homens e mulheres de avançada idade, e reflito sobre as suas vivências, as suas experiências tão desvalorizadas nesse país, que não tem como cultura um respeito pelo idoso e me lembro das palavras do Pastor Oswaldo Luiz Gomes Jacob – Pastor da Segunda Igreja Batista em Barra Mansa – RJ.
“Os idosos não devem ser olhados com pena, mas com admiração. Não devem ser tratados com desprezo, mas com honra. Não devem ser motivo de chacota, mas motivo de gratidão e louvor a Deus. O olhar do ancião é um olhar clínico, capaz de discernir e dar orientações sábias. Precisamos do olhar do idoso, da sua opinião, da sua avaliação e do seu trabalho. Os países desenvolvidos como Japão, Suécia, Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra têm muito apreço pela pessoa de avançada idade.
O olhar do avançado em dias é para ser valorizado. É uma visão com a experiência do passado, a tranqüilidade do presente e a esperança do futuro. A tendência dos mais velhos é olhar no retrovisor. Há, todavia, muitas exceções. Devemos aprender do idoso, da sua experiência de vida. Conversar com ele e buscar conselho. É muito precioso ver uma pessoa com idade avançada esboçando um sorriso e uma simpatia contagiantes.
Os olhos de uma pessoa na terceira idade podem estar cansados, mas o seu olhar é penetrante, radiante, brilhante e contagiante”.
Enfim, tenho aprendido muito naqueles corredores, lendo olhares e gestos, e sempre na esperança de um dia — mesmo que para isso eu tenha que acreditar em ETs de Cocoon — poder realizar o sonho do meu pai, já com noventa e um anos de idade: fazer voltar o tempo em pelo menos quarenta anos, para todos eles.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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