MECENATO NO SÉCULO XXI

Mecenato é um termo que indica o incentivo e patrocínio de artistas e literatos, e mais amplamente, de atividades artísticas e culturais. O termo deriva do nome de Caio Mecenas (68 – 8 a.C) influente conselheiro do Imperador romano Augusto, que formou um círculo de intelectuais e poetas, sustentando a produção artística deles.

O termo mecenas, nos país de língua neolatinas, indica uma pessoa dotada de poder ou dinheiro que fomenta concretamente a produção de certos literatos e artistas. Num sentido mais amplo, fala-se de mecenato para designar o incentivo financeiro de atividades culturais, como exposições de arte, feiras de livros, peças de teatro, produções cinematográficas, restauro de obras de arte e monumentos.

E falar em mecenato, em Ribeirão Preto, é falar de Marcos Botelho — Gerente de Marketing do Ribeirão Shopping — e Vilibaldo Faustino — Diretor da Gráfica Villimpress — pelo menos em relação ao trabalho do Grupo Amigos da Fotografia de Ribeirão Preto.

Essa dupla de mecenas, juntamente com o GAF, presidido pela fotógrafa Elza Rossato, nos últimos anos têm presenteado a cidade com obras que preservam a memória fotográfica ribeirão-pretana por muitas décadas, com trabalhos que, com certeza, no futuro, servirão de fonte de consulta para todos aqueles que desejarem conhecer um pouco mais de nossa história: são cinco volumes, num total de 750 fotos, acompanhadas de textos poéticos de Antonio Carlos Tórtoro, fotógrafo, professor e escritor.

Na tarde do dia 6 de fevereiro de 2020, uma comissão de Diretores do GAF — Elza Rossato, Dr Fernando Gaya, Dra Fernanda Ripamonte, Dr Francisco Ripamonte e Antonio Carlos Tórtoro — reuniu-se com Marcos Botelho para mais um momento em que ao sonho foi permitido tornar-se realidade: mais um volume de “O Passado Manda lembranças” — a ser lançado durante a 20ª. Feira do Livro — e a segunda Exposição Internacional de Fotografia , em Ribeirão Preto, com apoio da FIAP – Federação Internacional de Arte Fotográfica, em agosto.

PREFÁCIO DO VOLUME V DE “O PASSADO MANDA LEMBRANÇA “.
Segundo Roland Barthes, em seu livro, A Câmara Clara, o punctum é uma espécie de extracampo sutil, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver, é aquilo que acrescento à foto e que, todavia, já está nela.
No meu prefácio para o primeiro volume de O Passado Manda Lembrança, escrevi:
“Cento e cinquenta fotos : setenta e cinco de antigos fotógrafos e setenta e cinco dos atuais fotógrafos do Grupo Amigos.
Cento e cinquenta anos de uma cidade e setenta e cinco olhares, reflexões do poeta, sobre fotos que contam um pouco da história dela.
Olhar fotos é perder-se num mar de sensações indescritíveis, reflexões, ideias, emoções variadas , sentimentos indecifráveis.
Observar fotos é como ver lagartas ainda em casulos, pautas musicais intocadas, barcos ancorados, comida no prato, botão que não se abriu, carta sem remetente, pontes, rios.
Analisar fotos é sentir-se fórceps invadindo útero e dele retirando antigas primaveras, frios invernos, romances desfeitos, seios perfeitos, calos doloridos, ogres e unicórnios.
As fotos falam caladas, seus conteúdos esfacelam-se como asas de mariposas ao serem tocadas por nossos olhares mais profundos, elas são cosmos a serem conquistados, vinho a ser sorvido, ar a ser respirado, companheiras de vigília.
Enfim , as fotos são aquilo que você desejar que sejam, caixas de Pandora, cujos conteúdos só dependem da sensibilidade de quem as observa.
Não existem fotografias do presente e do futuro: as fotos reveladas são sempre do passado, um passado — próximo ou distante — que não volta mais.
Olhar e ver uma fotografia é ser todo ouvidos no momento da observação, é entregar-se por inteiro à própria atenção como receptáculo, totalmente vazio, prestes a encher-se com o rico e inesgotável conteúdo dela, é sentir que, naquele momento, poder-se-á atingir a derradeira perfeição na arte de ver.
Mergulhados que estamos hoje, num mundo de imagens invasivas, muitas de mau gosto, que se apresentam e desaparecem aos nossos olhos com a rapidez que só a TV e a Internet permitem, acostumamo-nos a não ver , a não dar a devida atenção a essa multiplicidade de tons e luzes.
Admirar fotos é ligar a alma a determinados detalhes e deixar que eles penetrem seu espírito, buscando encontrar ali a perfeição procurada pelo fotógrafo/artista no momento do flash revelador”.
Agora, pela quinta vez, o passado manda lembrança pelas mãos e lentes do Grupo Amigos da Fotografia de Ribeirão Preto, completando ao todo, nos cinco volumes, setecentas e cinquenta fotos.
Pela quinta vez, foram “garimpadas” setenta e cinco fotos dentre centenas que a Presidente do GAF, Elza Rossato, conseguiu colecionar com a ajuda de pessoas que, da mesma forma que ela amam a fotografia e preservam a história da fotografia ribeirãopretana, guardando fotos antigas.
Pela quinta vez, os fotógrafos do GAF saíram a campo para clicarem momentos semelhantes, registrados pelas fotos antigas, mas com visuais atuais.
Pela quinta vez, participo desse trabalho incrível de preservação histórica, criando pequenos textos poéticos para cada uma das fotos apresentadas no livro.
Desta vez, com textos estruturados na forma semelhante a de haicais, (de maneira geral, haicai é um poema conciso, formado de três versos, no total de 17 sílabas) escolhi punctuns em cada uma das fotos antigas, e contei breves histórias além daquilo que cada foto me deu a ver.
É um exercício que cada leitor poderá fazer buscando ver em cada foto muito mais do que o registro realista, ou a mensagem codificada, não deixando assim a fotografia ser limitada a apenas um registro documental.
Desafio meu leitor a escolher seu punctum particular nas fotos e fazer funcionar o escritor que está escondido em cada um de nós.
Enfim, termino esse meu texto com as sábias palavras do Mestre Roland Barthes: A Fotografia é louca ou sensata? A Fotografia pode ser uma ou outra: sensata se seu realismo permanece relativo, temperado por hábitos estéticos ou empíricos ( folhear uma revista no cabeleireiro, no dentista) ; louca, se esse realismo é absoluto e, se assim podemos dizer, original, fazendo voltar à consciência amorosa e assustada a própria letra do Tempo: movimento propriamente convulsivo, que inverte o curso da coisa e que eu chamarei, para encerrar, de êxtase fotográfico”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
Ex-presidente, idealizador, fundador e Patrono da ARE – Academia Ribeirão-pretana de Educação.
Presidente Emérito do Grupo Amigos da Fotografia de Ribeirão Preto.

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