LI E GOSTEI: O LABIRINTO DOS ESPÍRITOS

UM LABIRINTO DE PERSONAGENS E MOMENTOS FORTES

Quase setecentas páginas, mas um livro que valeu a pena carregar de um lado para o outro, que valeu a pena as quase tendinites e torcicolos na cama, nos consultórios dentários e nas consultas médicas: um companheiro nas longas esperas e nas horas de lazer.
Um livro sangrento e macabro.
Um livro instigante e às vezes complexo, e que, às vezes me deu náuseas devido às descrições minuciosas das torturas e mortes violentas a que alguns personagens são submetidos.
É um livro que faz refletir sobre até que ponto devemos levar a cabo uma vingança, e até onde pode ir a maldade humana.
A obra de Zafón não é só uma ficção, mas uma história que poderá ter sido, um dia, a história de muitas pessoas reais, a partir do momento em que o cenário em que ocorre a trama é o pós-guerra na Espanha de Franco, sob um regime político ditatorial. É uma história de família, que não aconteceu, mas muitas outras histórias, iguais a ela, com certeza, aconteceram, e é isso que me impressionou e me fez pensar, isso que me comoveu: saber que tanta gente sofreu nas mãos dos supostos policiais de um regime, que nada mais eram do que assassinos ligados ao governo.
É um livro complexo, com múltiplas histórias a ocorrer ao mesmo tempo, com personagens que surgem de repente do nada, a ponto de, por vezes, nos perguntarmos: “mas quem é este?”. Mas, logo em seguida, Zafón nos esclarece. O autor tem noção de que seu livro é denso, e, por isso, vai repetindo trechos e retomando momentos anteriormente ocorridos, repetindo detalhes para nos refrescarem a memória, pois que, de outra forma, ficaria complicado perceber quem era quem no meio daquela multidão.
Em resumo:
Madrid, anos 1950. Alicia Gris é uma alma nascida das sombras da guerra, que lhe tirou os pais e lhe deu em troca uma vida de dor crônica. Investigadora talentosa, é a ela que a polícia recorre quando o ilustre ministro Mauricio Valls desaparece; um mistério que os meios oficiais falharam em solucionar.
Em Barcelona, Daniel Sempere não consegue escapar dos enigmas envolvendo a morte de sua mãe, Isabella. O desejo de vingança se torna uma sombra que o espreita dia e noite, enquanto mergulha em investigações inúteis sobre seu maior suspeito — o agora desaparecido ministro Valls.
Os fios dessa trama aos poucos unem os destinos de Daniel e Alicia, conduzindo-os de volta ao passado, às celas frias da prisão de Montjuic, onde um escritor atormentado escreveu sobre sua vida e seus fantasmas; aos últimos dias de vida de Isabella, com seus arrependimentos e confissões; e a intrigas ainda mais perigosas, envolvendo figuras capazes de tudo para manter antigos esqueletos enterrados.
Com O labirinto dos espíritos, Zafón nos conduz ao emocionante desfecho da série que começou com A sombra do vento e emocionou leitores por todo o mundo. Personagens novos e antigos povoam as páginas, se entrelaçando em uma despedida grandiosa.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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